Paula Brant

A (In)diferença a diversidade de opinião nas organizações:

o papel das habilidades sociais e políticas na criação de ambientes onde todas as vozes são ouvidas

Um estudo realizado pela Pew Research com mais de 10.000 adultos americanos, identificou que, nas últimas décadas, as pessoas estão mais polarizadas e divididas do que nunca antes na história. Esse fenômeno, infelizmente, não é isolado e vem ocorrendo em várias partes do mundo. Vive-se um momento de muitas incertezas e para livrar-se desse desconforto, as pessoas tendem a se agarrar a novas ou antigas verdades.

Em geral, as pessoas, sequer escutam aquelas que pensam diferente, desperdiçando, assim, a oportunidade de ampliar a sua visão sobre um tema e/ou de entender o ponto de vista do outro. Se esse é um comportamento que tem sido recorrente entre pessoas no dia-a-dia com suas famílias e amigos, a situação pode ser ainda mais crítica no ambiente corporativo, onde o status, o cargo e a competição por resultados são justificativas consideradas aceitáveis para o domínio de poucos privilegiados.

A diversidade é uma das grandes riquezas da humanidade.

As pessoas são diferentes umas das outras e também compartilham coisas em comum. Todos temos necessidades universais de conexão, auto expressão, autonomia e também um interesse genuíno em oferecer nossa contribuição. Nesse sentido, a diversidade é o conjunto de diferenças e semelhanças que caracterizam as pessoas e que as tornam únicas.

No entanto, a maioria das empresas ainda busca o convencional.

Muitas organizações ignoram uma variedade de emoções e conflitos que fazem parte da coexistência humana no ambiente corporativo. Um desconforto que sempre me deixa atenta nesse espaço é o fato de várias vozes não serem ouvidas. A diferença de opinião é uma forma de diversidade e uma das maneiras em que ela se manifesta. A Indiferença ao diferente, machuca aqueles que não tem voz, restringe e exclui potencialidades que a diversidade pode trazer ao ambiente organizacional para torná-lo mais humano, criativo e sustentável.

Nas organizações, quando existe espaço para a “escuta”, é natural que as pessoas se manifestem concordando, ou não, acerca dos meios e dos fins. É sabido que cada indivíduo tem um campo de competência particular e conhecimentos limitados por esse campo. Cada profissional enxerga a organização e o mundo, sob a sua ótica e cada um, irá defender aquilo que acredita ser o curso certo da ação. Entretanto, não devemos perder de vista que não é incomum se desvalar para a intolerância e o preconceito. Nesse contexto muitas vozes se calam, enquanto outras, com convicções extremadas se esforçam para falar mais alto e então, perde-se a chance de encontrar soluções equilibradas que incluam várias perspectivas e contemplem a abrangência da questão. E é dentro desse cenário de interações humanas complexas que líderes habilidosos alcançam resultados e fazem a diferença. Que habilidade é essa e como ela se manifesta?

Grande parte das decisões organizacionais significativas é o resultado de um processo social e político.

A noção de política nasce da ideia de que, quando os interesses são divergentes, a sociedade deve oferecer meios que ajudem os indivíduos a reconciliarem as suas diferenças por meio da consulta e da negociação. Isso significa que a imprevisibilidade e elevada velocidade demandam ainda mais habilidades sociais e políticas para lidar com todas as diferenças que são naturais e, na maioria das vezes, desejáveis para permitir o compartilhamento de ideias, experiências e paixões. O profissional competente politicamente é aquele que busca ver as questões de forma ampla, levando em consideração os diferentes ângulos e para tanto ele se propõe a dar voz a todos.

Cultivar maior diversidade nos cargos de liderança e desenvolver a habilidade política naqueles que assumem esse papel, talvez seja uma das formas mais eficientes para a transformação do ambiente de trabalho em um lugar que reconhece e valoriza a diversidade e proporciona representatividade. O desenvolvimento da habilidade política dos líderes, visa alcançar objetivos que possibilitem o trato das demandas das relações humanas e da diversidade em particular, tais como:

  • proporcionar um ambiente seguro, onde as pessoas se sintam confiantes em se expressar e correr riscos;
  • cultivar emoções positivas, criando laços de respeito e acolhimento às diferenças;
  • estabelecer vínculos emocionais genuínos, gerando interações sustentáveis com liderados e todos os stakeholders;
  • selecionar profissionais para sua equipe com perfis diversos;
  • identificar as potencialidades de cada membro e encorajá-los a se exporem;
  • buscar alinhamento das motivações de todos às metas da organização;

Temos observado que líderes que desenvolvem a competência política têm mais prontidão para ouvir e conciliar as diferenças, gerenciam melhor os interesses múltiplos que competem entre si e administram, permanentemente os conflitos, tratando-os antes de se tornarem confrontos.

É urgente que as organizações se preparem para lidar coma as diversidades, principalmente, no mundo do trabalho pós-pandemia, onde muitos chegarão carregando enormes perdas. Alguns norteadores devem ser avaliados:

  • fazer um diagnóstico da sua realidade;
  • criar um plano de ação para preparar seus profissionais;
  • fazer com que a inclusão aconteça em todos os níveis e com o comprometimento de todos.

Abraçar a diversidade não é missão de uma única área, mas uma mudança de postura coletiva.

As empresas e todas as diversidades que elas incorporam podem proporcionar o desenvolvimento de cidadãos e trabalhadores mais conscientes. Então, é fundamental que as empresas busquem reinventar seus espaços. Espaços esses onde as pessoas tenham que usar máscaras, apenas para se protegerem da Covid e enquanto isso for necessário. Só assim teremos organizações mais justas.

E você tem sido aberto a diversidade de opiniões? E a sua empresa oferece espaços para as diferentes vozes?

Referência: https://www.pewresearch.org/politics/2014/06/12/political-polarization-in-the-american-public/