Paula Brant

As lições de liderança que podemos aprender com a Pandemia

Nem o melhor profissional em prever o futuro poderia imaginar como seria o ano de 2020. A chegada do surto do Coronavírus alterou a vida de todos os seres humanos na Terra, embora de diferentes maneiras. É fato que vivemos em um mundo de mudanças rápidas, porém, essa doença vem acelerando algumas das transformações já apontadas como tendência. Apesar dos efeitos negativos deste evento, que são muitos e levarão muito tempo para contabilizarmos e superá-los, podemos tentar extrair lições disso, refletindo sobre a forma como alguns líderes estão conduzindo a situação e o que nós podemos aprender com isso.

O estilo de liderança tem sido considerado um ponto crucial na desaceleração da disseminação da Covid-19. Mulheres líderes em todo o mundo têm tido muito mais sucesso nessa situação, como o exemplo da primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden. Ela tomou uma medida drástica de fechar o país inteiro, no entanto, como resultado pôde declarar oficialmente que o país estava livre da doença. Angela Markel é outro exemplo que pôde reabrir a economia da Alemanha mais cedo do que outros países europeus. Um estudo conduzido por alguns pesquisadores da Inglaterra comparou países liderados por mulheres e seus vizinhos liderados por homens que eram semelhantes em termos de população, idade, gastos com saúde entre outros. Eles descobriram que as mulheres tendem a ser mais avessas ao risco quando se trata de tomada de decisões que envolvem vidas humanas, e por isso tiveram seus países fechados mais rapidamente. Por outro lado, as mulheres são menos avessas ao risco quando se trata de arriscar a economia. Alguns países liderados por líderes do sexo masculino, como EUA, Reino Unido, Brasil e Rússia permanecem como países líderes em termos de mortes per capita. A lição aqui é sobre abraçarmos a diversidade de estilos de liderança. Por muitos anos, as mulheres foram solicitadas a serem como os homens para ter sucesso. Alguns pesquisadores sobre liderança defendem a ideia de que um arquétipo de liderança feminina seja mais adequado às demandas do contexto atual em razão das suas características como colaboração e humanização das relações. Nesse momento sem precedentes, é importante compreender essas diferentes abordagens e buscar o estilo que seja mais adequado a cada situação.

Outra lição inquestionável da pandemia é a interdependência entre países, sociedades e pessoas. A pandemia escancarou nossa vulnerabilidade. Neste mundo globalizado, nenhum país está realmente isolado, protegido ou acima de tudo. Um problema que começou na China se espalhou para todos os países, independentemente de sua riqueza ou poder. O poder geralmente é estudado com base em duas dimensões. A primeira dimensão está relacionada à dependência. Quanto mais B depende de A, mais A tem poder sobre B. A segunda dimensão está associada à compatibilidade de objetivos. Nesse exemplo, onde a relação de poder é desigual, A tende a não estar disposto a compatibilizar seus objetivos. No entanto, o controle do coronavírus tornou-se objetivo de todos os países do mundo e para solucionar esse problema será necessário um esforço conjunto e os bons resultados dependerão da participação e responsabilidade de todos. Suponhamos que um país pudesse controlar e fornecer uma vacina para a Covid somente para sua população, no entanto, essa solução seria sustentável? Quanto tempo eles poderiam viver isolados? Se isso fosse realmente possível, mesmo assim eles sempre estariam ameaçados pela volta do vírus se o problema não for resolvido a nível mundial. A lição aqui é que não há como resolver problemas complexos sem colaboração. Nesse sentido, há também uma mudança nas relações de poder ao invés do poder sobre, precisamos do poder com. O poder com significa fazer coisas juntos e usando os melhores talentos, experiências e conhecimentos das pessoas, compartilhando informações e reunindo forças. Os líderes devem criar um ambiente colaborativo que leve as melhores tomadas de decisões que beneficiem a sociedade como um todo.

Em tempos incertos como essa pandemia, provavelmente, nenhum procedimento ou estratégia prévia existia para lidar com essa crise. Quando não existem políticas estabelecidas sobre como agir na situação X, os líderes precisam encontrar critérios que guiem suas decisões. Essa orientação pode vir dos valores da empresa, da constituição de um país ou, se nada disso for suficiente, os líderes terão que confiar em seus valores pessoais. Cabe uma reflexão sobre quais prioridades e valores que cabem nesse momento. Nas últimas décadas, muitas sociedades se concentraram em valores, medidas e recompensas individualistas. Não é de se admirar porque a competição é tão alta e porque encontramos tantos problemas não resolvidos na nossa sociedade. Enquanto isso, a Covid-19 nos alerta sobre a importância de olhar os problemas de forma mais ampla e buscar o aprimoramento da sociedade como um todo. A lição aqui é de que precisamos avaliar os impactos de nossas ações em toda sociedade. Os líderes devem equilibrar os valores individuais e coletivos de forma que o bem comum sempre prevaleça. Normalmente, as organizações não incentivam um pacto pelo desenvolvimento do grupo, mas apenas de seus membros individualmente. Os sistemas de avaliação e recompensas limitam a autonomia dos líderes para oferecerem formas mais substantivas de reconhecimento da colaboração. Cabe às lideranças estabelecerem contrapartidas para o reconhecimento do desenvolvimento da equipe e de seus integrantes como parte do pacto firmado.

Outra lição trata da importância do desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. Controlar nossas emoções em momentos de pressão e adversidade é fundamental. Esse é um momento difícil para todos, o medo da morte, o luto de parentes queridos, o risco da perda de empregos, a inseguras quanto à manutenção dos seus trabalhos, os negócios em  crise ou fechando, a adaptação a modalidade home office e todas as outras preocupações em relação à educação dos filhos e muitas outras. A lição aqui é de que precisamos nos fortalecer emocionalmente para conseguir lidar com todos os problemas. Os líderes devem cuidar de suas próprias emoções para poder apoiar seus seguidores e prepará-los para lidar sempre com adversidades. O trabalho à distância impõe aos líderes abandonarem a postura comando-controle, o que significa deixar os membros de sua equipe decidirem o que e como vão fazer seu trabalho. É preciso proporcionar mais liberdade, preocupando-se em oferecer apoio e garantir condições de trabalho adequadas para que possam fazer suas entregas. Neste contexto, os líderes devem construir relações de confiança, onde cada membro da sua equipe seja considerado na sua individualidade.

Referência:

https://www.forbes.com/sites/stephaniefillion/2020/08/05/the-science-behind-women-leaders-success-in-fighting-covid-19/